Há muito não se via na Polícia Rodoviária Federal tanta centralização e falta de diálogo com os servidores como no período atual. Esse cenário faz vir à memória épocas anteriores à recepção da PRF no capítulo da segurança pública na Constituição Federal (que com uma luta árdua, nossos veteranos resguardaram da iminente extinção). Naquele tempo, nossos quadros se submetiam ao controle do extinto DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens), sendo certo que as ordens vindas dali em nada consideravam a opinião ou o bem-estar dos servidores, assim como vem se repetindo no presente.
Com tantos períodos turbulentos, revisitar nossa história é essencial para relembrarmos e compreendermos que o caminho que vem sendo trilhado pela administração regional, em consonância com a gestão máxima da PRF, está fadado à perda dos servidores, seja no aspecto motivacional, seja na questão da saúde física e mental.
Sob o pretexto de potencializar resultados, alega-se racionalizar o uso dos recursos humanos disponíveis. Mas como considerarmos racional o fechamento de postos e a redução do efetivo ordinário em prol da saturação de operações especializadas?
É fato inegável que a maior parte dos resultados institucionais advém da escala ordinária, bem como se deve reconhecer que as demandas oriundas do serviço de inteligência podem ser repassadas tanto para o PRF em serviço ordinário quanto especializado. E diante do cenário que vem sendo construído, questionamos: onde está o racional em relegar, cada vez mais a último plano, nossa característica de proximidade da sociedade?
A mesma sociedade que se somou à luta de nossos veteranos contra a extinção da PRF em 1988 e que conferiu mais de 85% de aprovação de nosso trabalho há apenas três anos, agora se vê diante de uma “super-polícia” que não tem mais tempo ou disponibilidade para prestar atendimento presencial nos postos, que não mais se importa em realizar ações educativas de trânsito ou em prevenir e combater a exploração sexual infantil.
Em largos passos, vamos deixando uma série de vocações históricas de lado, nosso aspecto mais humano e humanizado, para projetarmos uma força especial de elite. Mas nesse ínterim, esquecemos que os membros que compõem essa força são pessoas de carne e osso.
Atitudes como a publicação da Portaria SPRF-PR nº 369/2020, que instituiu o projeto do novo modelo de policiamento no Paraná poucos dias após uma transmissão ao vivo da Superintendência Regional, em que nada disso foi ventilado e sem qualquer diálogo prévio com o efetivo e sua legítima representação de classe, só demonstram o triste retrocesso que estamos vivenciando.
A falta de diálogo, no entanto, desta vez parte de colegas de uma mesma categoria. Colegas que ocupam importantes funções na gestão da nossa PRF, mas que parecem ter se esquecido que estão sacrificando colegas de trabalho para buscar pretensos resultados, sem se importar com os custos irreparáveis à categoria que estes provocarão.
E “pra não dizer que não falamos das flores”, referido ato normativo expressa, em um inciso isolado, que os responsáveis pelo revolucionário projeto deverão se ater à “manutenção do adequado atendimento das necessidades fisiológicas e de segurança dos policiais”.
O SinPRF-PR expressa sua máxima preocupação e apela ao bom senso dos gestores, sob pena de colocar décadas de construção de um perfil institucional tão admirado pela sociedade brasileira a perder. E mais que isso: sacrificando a vida e a saúde física e mental de inúmeros colegas PRFs!
Vamos avançar, fazer a PRF crescer ainda mais, mas com respeito ao próximo! O que faz a PRF ser admirada e, no bom sentido, até mesmo invejada por outras instituições de segurança pública, sempre foi o formato da nossa carreira, única, sem rompantes e centralização. A nossa pluralidade de ideias foi o que nos trouxe até aqui. Abandonar essa receita de sucesso é nos direcionar para modelos de gestões autoritárias e absolutamente ultrapassadas.
A melhor forma de mergulhar na ignorância é se cercar por aqueles que nunca ousam discordar de um modo de pensar. As boas ideias surgem das práticas democráticas, permitindo a evolução real, ao ouvir conciliar lados opostos.